Se liga! Você não precisa usar o sofrimento para conhecer sua essência
É difícil medir o amor que a gente sente por nós e pelos outros. Não temos um aparelho que nos guie no sentido de decifrar o quanto gostamos ou amamos um ser vivo. Uma das poucas oportunidades, a qual pude vivenciar recentemente, é um ambiente hospitalar. Lá, sem querer, a gente vai percebendo várias sensações que não ocorrem no nosso dia-a-dia conturbado. Não sei se é porque lá no hospital temos mais tempo para observar as coisas e ficamos mais suscetíveis aos sentimentos, ou se é porque a gente nunca presta muita atenção ao nosso redor. Mas, sei que lá, a gente vê o amor circulando pelos corredores, no rosto das pessoas, nos gestos das pessoas, no jeito calmo e na voz baixa, na maneira de se movimentar e, principalmente, no jeito que o sofrimento flui, abertamente, sem rodeios. Não que tenhamos que usar o sofrimento para visualizar o amor, para medir o nosso amor, mas vi que através dele, as pessoas conseguem ser naturais, deixam-se fluir por inteiro, sem carapaças, sem serem comedidas, sem barreiras. De repente, as pessoas ficam bondosas, cheias de cuidados, cheias de......amor! Ali, a coisa acontece no pulsar, nas mais escancaradas janelas do sentir. Ali, a coisa vem à tona sem ser convidada, sem ser avisada. Ao mesmo tempo que o sofrimento toma conta do ser, o amor se mostra, para alguns frágil e discreto, para outros forte e singelo, mas ele se mostra sem medo, sem medida.
Naquele ambiente pude ler nos olhos das pessoas a bondade, a compaixão, a compreensão, sentimentos estes que não estamos mais acostumados a deixar transparecer, pelo contrário, hoje em dia, as pessoas até têm vergonha de mostrar-se sensíveis, com compaixão, com sensibilidade. Hoje em dia, as pessoas querem sim, mostrar que são poderosas, se acham super-homens e super mulheres, atirando as coisas na cara uns dos outros, passando por cima uns dos outros, sem pudor, armados de ambição, de exibição, de malícia. No hospital, ali, sofrendo ao ver seus entes mais queridos mal, as pessoas ficam transparentes, ficam sem maldade, são naturais, deixam vir à tona o melhor que têm dentro de si, ou seja, a essência da vida, a energia vital que é a maior riqueza que o ser humano pode ter.
Infelizmente hoje, o ser humano está assim, precisa de baques para voltar ao seu âmago e observar que ele é parte integrante de todo este enorme universo, e que este lugar que ocupa no espaço deve ser muito bem cuidado, estudado, aproveitado para que possa crescer espiritualmente e, acima de tudo, respeitado. Infelizmente hoje, os super-homens estão em todas as esquinas e avenidas, eles não param de esbravejar, de gritar pelos quatro cantos do mundo que detêm o poder, que podem tudo, são fortes e destemidos. Infelizmente hoje, a solidariedade, a bondade e, principalmente, o amor, deixaram de ser premissa maior, passando a meros coadjuvantes nessa imensa chance que temos para melhorar, que é a nossa passagem pela Terra.
Portanto, preocupe-se mais com este precioso tempo que estás passando aqui e agora, pare um pouco, experimente mais as palavras mágicas que tanto ensina aos seus filhos -com licença, por favor, obrigado-, mas as experimente com o coração, com o seu mais puro sentimento, e prestando atenção ao que sente ao dizê-las. Esse é o caminho, não há outra maneira de nos sentirmos livres, abertos. É permitindo-se sentir de verdade a sua essência, a sua pureza, que terás mais paz. Tente conseguir ver o amor sem ser pressionado por um ambiente onde tenha que sofrer, para poder medi-lo. Respire fundo, dê-se um tempo para si mesmo e vá em frente, solidário, forte e feliz.
Maria Lúcia Gonzatto
Outubro de 2010
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