Caminho de Volta

Caminho de Volta
Lindos Ipês traduzindo luz(foto Lú Gonzatto)

domingo, 14 de outubro de 2012

Comida: Todos os dias, toda semana, é preciso comer!

A tortura maior fica para as donas do lar que têm que decidir, duas vezes ao dia, o que vão fazer e, claro, a preocupação em fazer bem feito. Diga me: muitas vezes, você, ali, na cozinha, fazendo mais uma refeição para a família, não se sente uma serviçal? Fica meia, fica uma, fica duas horas cozinhando, fazendo o melhor que você sabe. Incrementa aqui, incrementa ali, e a janta fica pronta. Você chama todos à mesa, mas, os seus convidados(familiares, porque não estou falando em uma recepção) demoram e demoram a sentar-se. Quando chegam e o fazem, servem-se e, de repente, um suspiro com um hummmm, sinal de que algo está bom. E, então, você já pensa: ah! Que maravilha! A comida está boa, valeu a pena ficar todo esse tempo ali naquela peça, investindo em algo que talvez você não aprecie muito, mas que, é necessário que alguém o faça. Bom, bem ou mal, você está ali todos os dias da semana, um prato após o outro, com ou sem vontade, almoço e janta. É, você sabe que é você, sim, a responsável, a rainha do lar, a que providencia o resumo do sustento da casa, o dinheiro no final do mês transformado em alimento na mesa, para satisfação, para o bem-estar da família, para a sobrevivência do corpo, e muitas vezes, até da alma, porque têm aqueles que dão prioridade máxima à comida. Mas, nem sempre o suspiro é de que tudo está bom. Muitas e muitas, até intermináveis vezes, é um suspiro abafado, contido, resignado, torcendo o nariz, fazendo cara feia. Ah! Claro, errei no sal, errei no ponto, errei no tempero. Meu Deus, eu fiz tudo certinho, eu tenho certeza, fiz com capricho, para deixar tudo muito bom, mas, o dia está pesado, a mesa está pesada, e nem tudo saiu como o pretendido. Nossa!!! A cozinheira se ferrou, com F maiúsculo. Nossa!! É verdade, faltou sal, faltou gosto, faltou tudo. E eu, eu que pensei que estava bom, que iria fazer algo bem gostoso, como tinha combinado comigo mesma. Fazendo com respeito, cozinhando com esmero, durante uma hora inteirinha. Mesmo porque, já no meio da tarde eu pensei no que eu poderia fazer para a janta, mas não pude, no supermercado, encontrar algo que ficasse de acordo. No final da tarde, fui ao mercado de novo, para ver se me aparecia uma intenção, algo que me dissesse, faz isso, que eles vão gostar. Bom, vi o peixe, achei boa ideia, achei que os filés eram bons, vou comprar, vou fazer do mesmo jeitinho de sempre, que todo mundo gosta, mas,................faltou o tal do sal, o peixe estava congelado e no descongelamento rápido, ...................o tempero não pegou. Ficou tipo uma esponja, comeram pouco, caras feias, disfarces, beiço torto, e até um consolozinho do marido, que falou: “o peixe é muito bom, o problema é a hora em que foi temperado, muito tarde!”. E você, cozinheira, mãe de família, que deu o seu suor, que deu o seu melhor, tem que escutar, pensando ser um consolo, mas que na realidade, mais era um soco profundo na boca do estômago. Toma aí, segura essa, vai te fazer bem aprender que não se tempera um peixe congelado meia hora antes de ele ir para o forno. Nossa! Que coisa, né? Sofre uma, sofre duas, sofre a vida inteira com isso, a não ser que goste muito de cozinha ou que tenha aprendido de berço, ou ainda, que tenha feito muitos cursos na arte de transformar alimentos crus em cozidos perfeitos, que todos apreciam. É complicado para a rainha do lar! A gente sempre tá pensando um dia antes, o que vai preparar ou mandar preparar no dia seguinte. É um trabalho ‘cansável’, mas que tem que ser incansável, porque afinal de contas, todos precisam se alimentar para sobreviver, para deixar o corpo em pé e, é claro, saudável. Uma preocupação e tanto para essas mulheres guerreiras, como sempre as chamo em minhas crônicas. Porque, afinal, como é que você vai deixar o seu filho, o seu marido, a sua filha, sem uma comida saudável? Além dos hormônios, conservantes, acidulantes, açúcares refinados, gorduras insaturadas, corantes e outros tantos produtos que estão contaminando os alimentos nas prateleiras, você tem que escolher o menos prejudicial, o que você acha que não vai poluir o estômago do seu filho, o que você acha que não vai oxidar o fígado do seu marido, e assim por diante. Uma tarefa difícil, essa de ser dona de casa. Nossa, se todos pensassem que essa é uma tarefa tão difícil assim, valorizaríamos muito mais os profissionais dessa área, exigiríamos muito mais qualificação de quem fica responsável por esse setor, pensaríamos duas vezes, ou mais vezes, antes de um suspirar desdenhoso. Se soubéssemos o quanto é cruel ouvir coisas ruins a respeito de uma tarefa e o quanto essa penalização pode afetar o seu ser, a sua saúde e o seu caráter, teríamos muito mais cuidado antes de reclamar de um suco com pouco açúcar, de uma salada com pouco vinagre, de um bife pouco temperado, de uma costela muito gorda. Feliz é aquele que prepara a sua própria comida, ingere-a do jeito que ela ficou, e acha muito bom!

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